Política

Trad elevou para R$ 2,5 bilhões gasto de Campo Grande com pessoal, suspeita é de FOLHA SECRETA

Pagamento de penduricalhos para aliados estaria em folha oculta na Prefeitura de Campo Grande durante gestão do PSD, segundo denúncia.
Foto Divulgação

Nos últimos três anos da gestão do ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD), a Prefeitura de Campo Grande registrou um salto nos gastos com pessoal, ou seja, pagamentos de salários, de R$ 1,6 bilhão para R$ 2,5 bilhões. Os vereadores suspeitam de uma folha secreta.

Mesmo com os efeitos da pandemia, a disparada no custo mensal com pessoal para os contribuintes campo-grandense impressiona.

Ao mesmo tempo, a Prefeitura fica sem limite prudencial para aplicar reajustes às mais diversas categorias.

 
 

Assim, um ofício foi encaminhado à atual Secretária Municipal de Gestão, Maria das Graças Macedo, com questionamentos para desvendar o crescimento. O documento é assinado pela vereadora Luiza Ribeiro (PT).

Proinc e adicionais

O documento também pede quais são as verbas pagas aos servidores - adicionais, gratificações, jetons, planos de trabalho, etc., que não constam no Portal da Transparência e, ainda, qual a justificativa para o crescimento da folha de pagamento, já que entre 2020 e 2021 houve vedação legal para novas contratações.

Além disso, recursos do Proinc (Programa de Inclusão Profissional), criado por Marquinhos Trad, também são questionados. O ofício questiona se os gastos com o programa são computados na despesa com pessoal.

 
 

Folha secreta

Durante audiência pública de prestação de contas para exposição Relatório de Gestão Fiscal, o advogado dos Sindicatos da Guarda Civil Metropolitana, dos Médicos e de Enfermagem, Dr. Márcio Almeida, questionou a atual Secretária Municipal de Finanças e Orçamento, Márcia Helena Hokama, sobre
a possível existência do que ele denomina de “folha secreta”.

Hokama assumiu a pasta depois que Pedro Pedrossian Neto (PSD), titular das finanças na gestão de Marquinhos Trad, saiu para se candidatar a deputado estadual.

Uma das suspeitas, inclusive, é de que o inchaço nos pagamentos de pessoal na Prefeitura de Campo Grande tenha a ver com a campanha do PSD nas últimas eleições de 2022 em Mato Grosso do Sul.

 
 

Trad abandonou a Prefeitura para concorrer a governador, mas acabou em quinto lugar após ser implicado em escândalo de assédio sexual. Marcos Marcelo Trad virou réu por assédio sexual contra 7 mulheres e o caso continua na justiça.

Penduricalhos: manobra para engordar ganhos de aliados

Segundo o advogado sindical, as possíveis causas para o crescimento do valor da folha do Poder Executivo, para além dos eventos legislativos, seriam contratos temporários, planos de trabalho (Gratificação por Encargos Especiais), jetons e acréscimos não informados no Portal da Transparência.

Segundo ele, praticamente não houve crescimento vegetativo da folha, "tendo em vista que os quinquênios, ascensões e progressões estão represados há muito tempo".

O advogado pontuou diversas situações enfrentadas pelos servidores: falta de aumento real há anos, professores e profissionais da enfermagem fazendo greve, auditores e procuradores com salários limitados pelo teto remuneratório.

No entanto, a atual secretária informou que cabe à secretaria municipal de Gestão informar sobre a folha municipal.

Folha secreta seria forma de desviar dinheiro das prioridades

Conforme o vereador Tabosa (PDT), os penduricalhos seriam dados a torto e a direito aos comissionados para a Prefeitura ter um aumento quase bilionário na folha e pouco crescimento vegetativo, ou seja, contratação de servidor efetivo.

"São coisas ocultas que estão dentro da administração pública e é visível quando tem esquemas. Não sou eu que estou dizendo e sim o alto escalão que diz que existem esquemas. Basta olhar para a cidade, o transporte coletivo, a saúde, a infraestrutura, a segurança. Se esses quatro pilares estão doentes então existem folhas ocultas, esquemas e falta de comprometimento, mas quem paga é a população", aponta Tabosa.

Vereadores blindaram gestão Marquinhos

No entanto, apesar dos questionamentos, a Câmara Municipal de Campo Grande resiste a investigar.

Assim, os atuais vereadores chegaram a barrar um requerimento à Prefeitura e se contentaram em aguardar a resposta do ofício, um instrumento de troca de informações anterior ao pedido, considerado mais formal.

De acordo com a vereadora Luiza Ribeiro, a prefeitura deve responder em até 30 dias o ofício sobre as contas da época da gestão de Marquinhos Trad. O vereador Professor André Luis (Rede) disse que os vereadores da base negaram o pedido de acesso à informação rejeitando o requerimento.

"É um problema sério que a gente sabe que existe, que é uma folha oculta. É uma falta de respeito com a Casa a falta de transparência do Executivo", lamentou.

O Jonal entrou em contato com o ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad. Questionado sobre a existência da suposta folha secreta na Prefeitura da Capital, negou e disse para a reportagem consultar os dados públicos.

Além disso, sobre como explicaria o crescimento de quase R$ 1 bilhão que promoveu na folha, Marquinhos se limitou a recomendar: "veja o Portal da Transparência".

Justamente o Portal que, segundo a denúncia, teria dados ocultados ou mascarados com penduricalhos para maquiar os gastos.

 

-MDX