O abandono de mais de 1.500 quilômetros de faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul com os países vizinhos Paraguai e Bolívia foi alvo de crítica do deputado estadual Marçal Filho (PSDB) nesta quarta-feira (20). Ao ocupar a tribuna na Assembleia Legislativa, o parlamentar disse que a sensação é que o governo federal nunca se preocupou de fato com a segurança nas fronteiras, tanto que passados mais de 8 anos desde o anúncio da instalação do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), um projeto bilionário, pouco de efetivo tem sido feito pelo Exército Brasileiro para impedir que a região seja transformada em refúgio para o crime organizado.
Atualmente o Sisfron está operando em apenas 650 km de faixa de fronteira do Estado, de Mundo Novo a Caracol. O projeto-piloto do programa, instalado na 4ª Brigada do Exército em Dourados está com 90% da sua capacidade tática finalizada, no entanto, ainda não está sendo utilizado de forma integrada entre os órgãos de segurança pública. O deputado questiona a morosidade do programa, que nos últimos anos teve corte de recursos.
“O número de homicídios é crescente principalmente na faixa de fronteira de Ponta Porã com Pedro Juan Caballero, no Paraguai. Em Dourados, também teve aumento de assaltos e homicídios. O Governo Federal tem que dar parcela de contribuição efetiva para a soberania do país. Há muito tempo foi lançado o Sisfron, mas temos assistido que isso não passou de planos, não saiu do papel”, enfatizou.
Com a queda acentuada nos efetivos da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, além da pouca atuação da Força Nacional de Segurança, ao longo de toda fronteira de Mato Grosso do Sul, Marçal Filho diz que a situação apenas se agrava. O Sisfron, que deveria integrar o chamado Plano Estratégico de Fronteiras do Governo Federal, caminha a passos lentos. Na tribuna da Assembleia ele lembrou sobre a Operação Ágata, que une esporadicamente as Forças Armadas com as polícias para fiscalizar toda extensão da fronteira brasileira com dez países sul-americanos e que sempre apresenta resultados fantásticos. "Ora, se uma operação mostra a efetividade da integração das Forças Armadas com as demais forças de segurança, por que, então, não tornar isso permanente nas faixas de fronteira?", cobrou.
Para o deputado do PSDB, a presença das Forças Armadas na fronteira deveria ser constante porque um país como o Brasil, com uma extensão territorial de dimensões continentais, não pode se dar ao luxo de guardar suas fronteiras com o limitado efetivo das suas forças policiais, principalmente a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal. Através do Sisfron, os militares do Exército poderiam, segundo o parlamentar, melhor desempenhar suas funções, principalmente no combate aos dois principais males do mundo moderno: o tráfico de drogas e o contrabando de armas.
Como o governo federal é alinhado às Forças Armadas, e que inclusive esta semana esteve na sede da CIA, o serviço de inteligência dos Estados Unidos, Marçal Filho espera que Jair Bolsonaro tire o Sisfron do papel, endurecendo a vida daqueles que se dedicam aos delitos transnacionais na faixa fronteiriça. Ele ainda pede apoio da bancada federal de MS na luta pela cobrança da efetividade do projeto.
Mato Grosso do Sul não pode continuar sendo penalizado pela situação de fronteira, uma vez que, conforme o deputado, sem muito apoio federal, são as forças estaduais que atuam nesta região, quando poderiam estar concentrados no combate de outros crimes, como roubo e latrocínio.