A polêmica gerada nas últimas semanas, em relação a execução do hino nacional dentro dos alunos, tomou um rumo de discussões equivocado. O que se vê não são pessoas contrárias ao hino, mas sim contra a pedido do Ministro da Educação, Ricardo Vélez RodrÃguez, caracterizado como irregular pelos profissionais, de que as escolas filmassem os alunos e enviassem ao MEC.
Mas a polêmica não para por ai, em Mato Grosso do Sul, segundo projeto apresentado nesta quinta-feira (7) na ALMS (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul), os alunos da rede de educação básica podem ter que além de executar o Hino Nacional, hastear a Bandeira do PaÃs, assim como manda a Lei Federal 5.700, de 1º de setembro de 1971.Â
Para a especialista em ensino de História e doutora em Educação , Maria Lima, o debate acabou tomando um caminho errado por falta de informação e é importante que se esclarece o ponto de discussão. “Não existe na sociedade nenhum grupo que seja contrário ao hino nacional e o hasteamento da bandeira nas escolas. Não existe nenhuma objeção de qualquer educador quanto a isso. O que existe é um posicionamento contrário ao absurdo que o ministro da educação fez, um crime de responsabilidade, de pedir que filmassem os alunos durante a execução do hino'.
Maria explica ainda, que o pedido é irregular e vai contra a lei. “É um monitoramento de uma ação em espaço público de maneira irregular, e sem obedecer a lei. Você tem uma pessoa num cargo público que desobedeceu a lei'.
Atualmente Maria é professora na FAED (Faculdade de Educação) da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), e destaca que como estudiosa do assunto, além de separar o debate, é preciso que o Hino e a Bandeira sejam vistos como sÃmbolo de identidade e objetos de estudo dentro das escolas.
“Não basta só colocar o aluno para cantar o Hino. É preciso trabalhar o Hino Nacional como uma produção cultural, assim como a Bandeira. Eles são documentos importantes de um perÃodo da história do paÃs, e o brasileiro precisa entender o que siginifca isso', explica.
“Estamos falando de um elemento de identificação. O Hino e a Bandeira são signos da identidade brasileira, e por isso são importantÃssimos para questões polÃticas e sociais. Não podemos apenas fazer a criança decorar. A criança precisa entender que aquilo tem uma história, não foi um presente, mas uma construção de uma identidade', conta.
Para Maria, assim como as religiões devem ser vistas como um ponto de vista critico dentro da sala de aula, levando o aluno a pensar sobre a história e os sÃmbolos que envolvem a BÃblia, o Alcorão, entre outros documentos religiosos, o Hino e a Bandeira são objetos de estudo fantásticos.
“Desde os anos 80 vêm se questionando a discussão do Hino na escola, não só a execução. Você aprende muito da história do Brasil, de lÃngua portuguesa, literatura, tudo isso com o estudo dos hinos, não só o Nacional. Você leva o aluno a pensar sobre as marcas que constroem o brasileiro', afirma.
Ela ainda ressalta, que não podemos tratar o hino de um ponto de vista autoritário, como se fosse algo dado, é preciso entender que ele é uma produção cultural que traz elementos históricos e marcas de um povo. “O Hino mexe com nossos sentimentos, é preciso compreender não só o texto, mas todos os significados contidos ali. O nosso Hino é lindo, e precisamos incentivar esse estudo e mostrar o significado de pertencimento que ele traz ao povo brasileiro', conclui.