Foi depois de passar pelo desemprego e não saber como garantir o sustento dos dois filhos, Manuela, 13, e Theo, 4, que a higienizadora capilar Verônica Belfort, 32, encontrou uma forma inusitada de conseguir uma renda: remover piolho à domicílio.
"Quando minha filha era pequena, ela tinha o cabelo comprido e muito cheio e sempre pegava piolhos. Eu não aguentava mais e, na época, pensei que se tivesse alguém que acabasse com estes insetos para mim, eu pagaria”, diz.
O que Verônica não sabia é que anos depois essa ideia viria à tona e ela seria a própria “catadora” de piolhos. “Eu fiquei tão craque em retirar os piolhos e lêndeas dos fios, que, quando a dificuldade financeira veio, não pensei duas vezes em oferecer este tipo de serviço. Por que não? Afinal, além dos piolhos da minha filha, eu acabava pegando o das amigas dela também para tentar dar um fim na infestação, que parecia infinita”, brinca.
Há cerca de três anos, ela criou o Império do Piolho, no Rio de Janeiro, que faz a higienização capilar em crianças e adultos. A empresa começou no famoso boca a boca e com panfletos espalhados no comércio do bairro onde mora e grudados em postes. Até que uma amiga muito próxima quis ajudá-la a divulgar em grupos de mães no Facebook e ela também fez uma página nessa rede social para aumentar a clientela.
Não demorou muito tempo para a agendar ficar lotada. “Hoje, eu limpo cerca de 50 a 70 cabeças por mês. É com esse serviço que faço supermercado, pagos minhas contas e o aluguel. É minha fonte de renda digna”, orgulha-se.
Geralmente, Verônica demora cerca de uma hora para retirar todos os piolhos e lêndeas por meio da técnica fio a fio, que ela desenvolveu. “Primeiro, eu passo o pente fino para tirar os piolhos e, depois, separo mecha por mecha e vou pegando fio por fio e retirando todas as lêndeas. Enquanto as lêndeas estiverem lá, vai ter piolho, já que elas demoram cerca de 7 dias para virar um piolho. Uma ninfa coloca cerca de 10 ovinhos (lêndeas) por dia. Eu não uso nenhum produto para fazer a limpeza, é na mão mesmo", esclarece.
Os clientes da higienizadora capilar são inúmeros. Muitas crianças e adolescentes e também as mães, que acabam também sofrendo com os bichos e a coceira. E, se você pensa que as crianças ficam inquietas com alguém mexendo no cabelo e choram, está muito enganada.
“Eu trabalhei como agente de saúde e detectava nas comunidades e escolas os pequenos com piolhos para que os familiares pudessem ser avisados. Durante este tempo, estudei bastante sobre esses insetos e também aprendi a lidar com crianças. Eu conto história e faço brincadeiras enquanto estou lá fazendo a limpeza", diz.
Quando a infestação está demais, Verônica orienta os pais a fazerem aos poucos como, por exemplo, uma hora por dia, durante no máximo uma semana para não dar tempo do ciclo da lêndea se completar.
Hoje, com três anos do Império do Piolho, Verônica comemora o sucesso e a clientela. “Minha agenda fica sempre cheia e muitas vezes eu não tenho horário para atender aquelas pessoas que estão desesperadas e já fizeram de tudo, tomaram remédio, passaram produto. Também tem a questão da distância, se for muito longe acaba ficando inviável por conta do deslocamento", conta. Geralmente a sessão de uma hora custa R$ 50, mais o valor do deslocamento.
No final do trabalho, Verônica ainda orienta os pais a trocarem toda a roupa de cama, olharem sempre a cabeça do filho nas áreas quentes (nuca e atrás da orelha) e a deixarem os cabelos compridos presos para dificultar a entrada do piolho no couro cabeludo. Ela também faz palestras em escolas e comunidades para informar sobre os problemas que a pediculose causa como, por exemplo, irritabilidade, alergia, coceira, problemas de concentração e até, em casos graves, anemia.